Fazia tempo que eu e a Vivi pretendíamos conhecer o Itatiaia. Nosso amigo Angelônimo, que já tinha alcançado por duas vezes o cume do gigante, nos convidou para tentar chegar ao Pico do Ovo a partir do Pico do Gigante. Topamos na hora, conhecer o parque Nacional do Itatiaia ainda mais picos menos badalados seria bem interessante.
1º Dia
A ideia do Angelônimo era acessar o Pico do Gigante pelo bairro da Serrinha, da cidade de Resende e de lá "achar" uma trilha aberta a não sei a quanto tempo para o Pico do Ovo. Para essa missão além nos três, represantes da babilônia paulistana, foram convocados o carioca Junior e o Inglês Sir Simon.
Saímos de São Paulo no ultimo ônibus para Resende eu, Vivi, Angelonimo e Simon. Chegamos por volta das 4h00 da madrugada e esperamos o Junior que viria do Rio de carro. Como eu estava com sono, deitei no canto da rodoviária e tirei um breve cochilo até o Junior chegar por volta das 5h00 da manhã. Da Rodoviária partimos para o bairro da Serrinha.
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O dia não demorou a clarear. Da estrada avistamos o Sol ao poucos foi iluminando o nosso primeiro objetivo, o Pico do Gigante. A lua que estava atrás do Pico dava um toque final aquela maravilhosa paisagem.
Chegamos no final da estrada do bairro da Serrinha (1000 mts) e estacionamos o carro na pousada do amigo do Angelonimo. Todos comeram algo rapidamente num breve café da manhã e deram aquele ajuste final nas mochilas e seguimos trilha acima sempre tendo como referencia o rio Pirapitinga que teria que permanecer a nossa direita durante toda a subida.
Devido a quantidade de caminhos feitos na mata para captação de águas para as casas abaixo, levamos alguns perdidos que nos custou pelo menos uma hora, pois somente quando cruzamos o rio nos demos conta que estamos errados. Voltamos e achamos a trilha que seguia em direção da crista que nos levaria até o cume, com o rio pirapitinga a nosso direita rasgando o vale. Dava para escutar inúmeras quedas d'águas.
A trilha segue suave até aos 1.300 mts, depois disso a inclinação começa a ficar cada vez mais intensa. Neste trecho ela seguia bem demarcada até chegar em uma enorme formação rochosa no meio (cerca de 1.400 mts) e sumir totalmente. Demoramos uns 15 minutos para entender que a trilha só poderia seguir pelo lado esquerdo da rocha, mas tinha um trecho bem complicado de aderência, como as mochilas estavam pesadas, ninguém quis arriscar. O Simon tentou subir pela encosta mais ao lado e avistou uma corrente que ajudaria a subir aquele trecho exposto, como conseguimos subir pelo mesmo caminho que o Simon segurando nos cipós, não precisamos dela. Por volta do meio dia paramos para um breve lanche. O altímetro marcava 1.500 mts, nosso destino era a chegar em uma caverna a mais ou menos nos 2.000 mts.
Parecia que a cada metro de altitude que ganhávamos aumentava a inclinação, como sempre eu e a Vivi exageramos em alguns itens de nossa dieta e peso do conforto era sentido nas costas. A trilha passou a ficar cada vez mais confusa depois dos 1.500 mts. Em alguns trechos ela chegava a fechar totalmente em meio vegetação rasteira, por isso tivemos que interceptar a trilha por outros trechos.
Fomos ganhando altitude e cada vez mais o grande maciço rochoso do gigante expunha a sua face por meio de algumas lages de rocha de inclinação considerável, tanto que em algumas há correntes para auxiliar a escalada.
Com o dia chegando ao fim, ainda estávamos na casa dos 1.800 mts, sabíamos que se seria difícil chegar a caverna. Depois de um longo trecho de subida chegamos a Pedra do Sapo, 1.900 mts. Para o tanto que subimos aquele trecho de pouca ou quase nada de inclinação foi um alívio. Não demoraria muito para o sol se por e todos estavam cansados, menos a Vivi.
Achamos um trecho na trilha próximo a Pedra do Sapo para montar minha barraca e da Vivi e os demais bivacaram. Acampamento montado, era a hora de jantar.
Nosso Cardápio:
Carrê suíno defumado;
arroz com fungi.
O carrê temperamos com ervas finas e um pouco de pimenta do reino, fritamos com um pouco de azeite. O arroz é daqueles de saquinho e vem em grande quantidade. O carret estava delicioso, fazendo até os vegetarianos Angelonimo e Simon provarem um pouco. Nos fartamos e depois de uma pequena conversa sobre o dia seguinte fomos dormir, quer dizer o Junior já estava faz tempo rs.
2º dia -
Se este dia merecesse um nome seria Tão perto, mas ao mesmo tempo tão longe, grave isso. Pelo GPS estávamos 1 km em linha reta do cume. O Angelonimo disse que daquele trecho em diante seria por platos rochosos e o avanço seria mais fácil. É não foi bem assim... rs
Acordamos cedo e saímos para tomar nosso café da manhã. O dia amanheceu lindo sem nuvens, a frente o vale do Rio Paraíba e ao fundo o Pico do Gigante e a lua atrás dele.
Todos com mochilas prontas, retornamos a caminhar por volta das 8h30. A inclinação fica mais tranquila da Pedra do Sapo até a caverna que seria nosso destino no dia anterior pela nossa programação. Demoramos pelo menos 1h para chegar, de dia e descansados, na caverna do local de nossa pernoite. Ou seja, tomamos a decisão certa de dormir na pedra do sapo.
Ficamos alguns minutos conversando e retornamos a subida. Na caverna a trilha segue para esquerda, escalamos uma encosta bem ingrime, bem protegida pela vegetação ainda alta deste trecho.
Encontramos a trilha e seguimos por ela até o primeiro trecho de escalaminhada. A trilha termina numa enorme pedra que em que vc tem que escalar e fazer uma pequena travessia para passar para o plato. Depois deste lance, perdemos completamente a trilha.
Demoramos pelo menos uns 30 minutos procurando e nada. Decidimos confiar no gps e ir direcionando mesmo que não tenha trilha aparentemente. Fomos abrindo caminho por meio de uma floresta de bambus. Em alguns trechos a trilha estava completamente tomada por eles, as vezes conseguimos a vistar antigas marcas de facões nos bambus.
Nosso ritmo de caminhada quando tinha bambu caia consideravelmente. Por volta das 10:50 da manhã chegamos em um enorme paredão de rocha. Alguns trechos daria uma boa escalada em móvel, pois há enormes fendas. Quem sabe um dia eu tomo coragem de escalar dessa maneira.
Olhamos bem para o paredão para escolher o melhor caminho, já que não há totens e nem setas nas pedras (graça a Deus!). Aqui a escalaminhada começa a ficar legal... Depois de vencermos esse lance, saímos num belo mirante que dava vista para o Pico do Ovo e para o Gigante que parecia estar do lado, já estávamos na casa dos 2.050 mts de altura e ainda eram 11h00.
Paramos para tirar fotos e comer algo rápido. Seguimos caminhado e ao contrário do que o Angelonimo disse, o passeio do dia não seria somente sobre platôs rochosos, pois entre uma e outra rocha tinha bambu. A trilha em alguns trechos não existia, víamos as marcas de facões mas tinha outra dezena de bambu no meio da trilha, por causa disso revezávamos na batida do facão, pois era cansativo re-abrir a trilha.
Por volta das duas horas chegamos na base do Gigante e paramos para um breve almoço. Fiquei ali admirando aquelas enormes fendas imaginando como seria escalar elas e quando eu teria nível para isso rs.
Estávamos felizes porque apesar da trilha fechada, progredimos bem. É daqui em diante que se enquadra definitivamente o nome "tão perto, mas ao mesmo tempo tão longe." Estávamos na casa dos 2.100 mts, por isso faltaria 90 mts na vertical e mais ou menos 1,5 km de trilha até o ponto onde seria possível escalar até o cume sem o auxilio de corda.
Demoramos um e meia até chegar ao ponto onde a trilha toca para cima numa inclinação bem acentuada. Em alguns trechos usávamos as árvores para auxiliar na subida. Quando termina o pequeno bosque de baixas árvores a trilha segue para a esquerda por uma enorme canaleta com o paredão rochoso a sua direita.
Nesta hora a poucos metros do cume o tempo fechou totalmente e já não se via nada no vale abaixo. Dura vida de montanhista, passa dois dias subindo até o cume e quando chega, está tudo fechado com uma enorme cortina branca. Chegamos ao cume as 16h30. Assinamos e tiramos fotos do livro do cume, constatamos que fazia mais de um ano que ninguém subia até o cume e na temporada passada foi apenas uma dupla que subiu. Conversamos por alguns minutos, até que decidimos voltar a caminhar, pois ainda teríamos que achar o local para o acampamento que estava num bosque mais abaixo do gigante, sentido oeste, e já passara das cinco da tarde.
Mas como entre querer partir e partir tem uma grande diferença, embalamos em outra conversa e demoramos mais um pouco para sair. A visibilidade era pouca devido a neblina e não tardou para escurecer, não tinha trilha visível a noite por isso o progresso era lento. Nossa água estava acabando, naquela altura somente eu e a Vivi possuímos um pouco cada.
Demoramos 1h30 para chegar a área de acampamento marcada no GPS. A vegetação era intensa, alternando bambu e outra árvore que cresce um monte de irmãzinhas ao lado, impedindo a passagem.
No acampamento, ainda fomos atrás de água, novamente guiado somente pelo GPS. Demoramos mais duas hora para achar a maravilhosa água que brotava da terra geladinha. Matamos nossa sede e voltamos para o acampamento em 30 minutos rs.
Exatamente as 21h chegamos ao acampamento com a missão do dia completamente cumprida. Enquanto eu motava a barraca, Vivi foi preparar o jantar.
Cardápio:
Feijão preto de caixinha.
Costelinha de porco defumada.
Arroz com fungi.
Salada de Pipino.
A Vivi colocou o feijão preto para ferver com os generoso pedaços de costelinha. Novamente os vegetarianos não resistiram. Desta vez a fome era tanta que não sobrou arroz e nem feijão. Depois do jantar todos foram dormir, eu fiquei na barraca lendo o livro do Casagrande até que o sono viesse.
3º Dia.
Acordamos não muito cedo, todos levantaram depois das 7h da manhã. Depois do café, fui junto com o Junior e o Simon buscar água novamente. De manhã demoramos apenas 15 minutos, bem mais rápido que ontem a noite.
De volta ao acampamento, demoramos muito para sair, somente as 10h30 iniciamos a caminhada rumo ao pico do ovo. O dia que prometia ser um dos piores, pois não havia trilha dali em diante.
Ao sair do bosque e alcançar a trilha que levava para o cume, tivemos noção do tanto que demoramos tanto para andar tão pouco ontem a noite.
Do alto de uma pedra decidimos o melhor caminho para descer e abrir a trilha até o ovo. Nos primeiros metros descendo a vegetação era bem espaçada o que evitava abrir picada, somente algumas marcas para localizar o caminho.
Pouco antes do meio dia achamos uma nascente d'água. Matamos a sede e completamos nossos estoques, pois não saberíamos se haveria água mais a diante. Seguimos pela colo que liga os dois picos, passamos por enormes blocos de pedra até chegarmos a uma nascente maior. Do leito do rio seguimos para a crista que estava a leste do leito. Alcançamos a crista e seguimos agora em sentido sul/ sudeste na direção do Ovo pelo melhor caminho possível, contudo toda aquela vegetação mamão com açúcar que tínhamos passados até aquele momento daria lugar para enormes ilhas de bambus.Não dá para descrever o que era aquilo, nossa progressão caiu muito.
As cinco da tarde achamos uma pequena caverna e outros locais bons para bivaque próximo a ela. Depois de avançar um pouco e constatar que não chegaríamos ao Pico do ovo naquele dia, decidimos ficar por ali. Como havia muitas aranhas no teto da caverna, achamos por bem tentar improvisar o dormitório da barraca como uma tela de proteção para o bivaque.
Antes do jantar comemos queijo e terminamos de tomar o vinho.
Cardápio:
Pasta peni de preparo rápido 1 a 2 min.
molho branco.
Picanha defumada fatiada
Salada de Pipino.
Jantar preparado era hora de repor as energias. Neste dia a comida não estava tão farta, mas estava boa, as fatias de picanha deveriam ser cortadas mais grossas para ficar mais suculenta, estavam cortadas como frios, bem fino.
4º Dia
No dia seguinte decidimos que o Angellonimo e o Junior seguiriam abrindo a trilha, enquanto eu e o Simon voltaríamos até a água para um reabastecimento. Esse foi o dia mais cedo que acordamos. De café tomado, todos foram cumprir suas tarefas.
No caminho para água percebi o pouco que avançamos depois que encontramos os bambus. De volta ao acampamento esperamos pelo aviso dos dois que seguiram abrindo a picada até o Ovo.
Por volta das 11h da manhã o Simon chamou pela gente, pois eles estavam quase chegando ao cume e ali tinha alguns mirantes. Chegamos ao cume do Ovo ao meio dia, ficamos apreciando aquele visual magnífico com o Vale abaixo, gigante ao lado e a Serra Fina, Prateleira e Agulhas Negras ao fundo. Não achamos livro de come, só quando decidi escrever esse relato, achei em uma blog que existe uma latinha.
Depois de uma boa pausa, passamos a discutir se avançávamos para o próximo objetivo ou retornaríamos pelo mesmo caminho.
Devido ao tempo que levaria e mais o pouco de comida que tínhamos, decidimos abortar e retornar pelo mesmo caminho. Retornamos para o acampamento e fizemos um almoço e subimos para o Pico do Gigante pela picada que abrimos. Fui na frente junto com a Vivi, pois queria apreciar o pôr do sol.
Chegamos na crista do gigante com um céu azul e sol que se punha atrás do Pico das Agulhas Negras e do Prateleiras na parte alto do Itatiaia, com Serra Fina Bem ao fundo. Tirei várias fotos da Vivi fazendo yoga e com a chegada dos demais fomos para o acampamento.
Neste dia o jantar era lentilha com costelinha de porco defumada. Depois do jantar ficamos algum tempo conversando e depois de algumas horas fomos dormir.
5º Dia.
No dia seguinte fui com o Simon assistir o sol nascer. Fiz algumas fotos e depois voltei para o acampamento para tomar café e arrumar as coisas para descer até a serrinha onde estava o carro do Junior. Demoramos 8 horas para descer.
Entramos no carro e seguimos para Resende querendo achar um restaurante, mas só encontramos pizzarias abertas, mas acabamos indo ao Habbis.
Apesar de chegarmos cedo na rodoviária, conseguimos perder o ônibus e por sorte tinha outro em seguida e conseguimos partir.
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