“AVENTURA JÁ”, A AUTÊNTICA REVISTA ANDARILHA |
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Escrito por Jorge Soto | |||
Seg, 02 de Julho de 2012 14:14 | |||
Em outubro do distante ano de 2002 quem fosse numa loja de equipos de aventura jamais imaginaria que aquela discreta, despretensiosa e simpática publicação emparelhada a tantos outro títulos inexpressivos da loja se tornaria referência pra toda uma geração de andarilhos. Era lançado o primeiro número da revista "Aventura Já", de autoria do veterano montanhista Sergio Beck, que dispensa apresentações. De curta e efêmera trajetória, a publicação se caracterizava pela simplicidade e ousadia com que, além de democratizar os esportes de aventura tornando-os acessíveis a qualquer um (em especial, o montanhismo), incentivava seus leitores a andar por conta própria. Como seu próprio autor afirmava: "Tinha conteúdo autêntico."
Mas pra isso precisava ter know-how profissional do meio editorial. Estagiou então em duas revistas como repórter ao promover aventuras pelo Brasil. Primeiro na extinta "Familia Aventura", que fechou as portas antes de sequer completar dois anos de existência; e depois por metade do mesmo período na respeitada "Aventura & Ação", como editor. É verdade que ambas publicações não eram bem o seu sonho. Dedicado e detalhista, desta última desligou-se por pequenas discordâncias editoriais que iam desde a pauta comercial até a mutilação constante de suas matérias. "Lembro de numa reunião discutirmos uma matéria sobre cantis. E o Beck foi categórico que o melhor cantil é garrafa pet. Eu disse que tínhamos que promover as marcas desses produtos pro leitor consumir. Mas ele não arredou o pé, pois o conceito dele era esse e ele não poderia romper com suas crenças e experiências.", conta Ricardo Contel, publisher da "Aventura & Ação", não escondendo a admiração q mantém pelo ex-contratado. "O Beck era detalhista demais no conteúdo e os textos (aos nossos olhos) tornavam-se longos e cansativos. Mas aos olhos dele, eram ricos em detalhes e práticos para a execução.", emenda. É, Beck teria ueq ter sua própria revista pra ser dono de seu próprio nariz. Inteligente, conhecedor do segmento aventureiro e com aptidão de sobra pra tocar sua própria publicação, Beck não desencorajou e meteu, enfim, as caras em terreno pantanoso: o editorial. Buscou parcerias que quizessem bancar a idéia mas todas se esquivavam, afirmando que não havia mercado pra revistas especificas de aventura; e as que haviam tentado sequer tiveram segunda edição. Persistente e teimoso como em qualquer árdua caminhada pela montanha, Beck não entregou os pontos e seguiu em frente. A coisa ganhou forma mesmo quando o diagramador, designer e escalador Luiz Fernando Machado juntou-se ao projeto. Ele já publicava um pequeno fanzine e também pensava em algo maior. Juntos, então criaram uma revista bimestral em formato pequeno, tamanho gibi - que fosse facil de dobrar e levar na mochila - e com 80 páginas. Ela seria vendida por aí, nas lojas de equipamento de aventura. Apesar de tocarem tudo sozinhos, tinham a eventual (e valiosa) colaboração de gente do ramo aventureiro. Tanto que a ex-editora da "Go Outside", Marilyn Novak, e o supercanoísta Christian Fuchs já passaram por suas páginas. O conteúdo, por sua vez, era autêntico e merece parágrafo a parte. Além de rica em dicas de "onde e como ir", tinha profundidade na informação técnica, além de uma visão bem mais genuína do mundo da aventura. Serra Fina e Marins? De jeito nenhum! Beck fugia do lugar comum e ia sempre atrás de novas rotas de modo a dispersar o excursionismo de massa nas áreas naturais, divulgando travessias até então desconhecidas como a Lapinha-Tabuleiro e da Serra do Papagaio, apenas pra citar duas. Não bastasse, pela sua seção de cartas já passou gente - na época dando seus primeiros passos - que hoje tem algum vinculo de destaque no mundo da aventura, sejam montanhistas experientes, diretores de centros excursionistas ou com alguma ligação com meio ambiente de uma forma geral. Além de conteúdo autêntico, havia também o quinhão de material polêmico. Beck pregava o direito de ir-e-vir em nossos parques nacionais, o que não raramente significava adentrar "clandestinamente" em áreas de preservação (sob os olhos da lei), na seção "Zona Proibida". Claro que esse discurso de rebeldia cativou uma legião de leitores que precisava apenas disso pra meter as caras por ai: uma voz que falasse por eles. Noutras, Beck se dirigia aos aventureiros na sua própria linguagem, o "aventurês". A revista então encontrou um publico interressado que sempre aguardava ansiosamente a proxima edição, mas a mesma era lançada a intervalos irregulares que variavam de três a oito meses. Dessa forma, Beck e Luiz Fernando perceberam que depois de seis edições não dava mais pra continuar daquele jeito artesanal. Além de produzir a revista por conta tinham que distribui-la praticamente a mão. Na sequencia tinham que recolher tudo novamente, além de cobrar os exemplares vendidos, que era o mais difícil. Tem muita loja devendo até hoje. Nem mesmo o site criado pra dar apoio as vendas e oferecer serviço de assinante dava retorno satisfatório. Foi quando sacaram que, pra crescer, a revista teria que aumentar sua tiragem e ser distribuída nas bancas pra lançar-se de fato ao mercado. Tinha que ser "mais profissional".
Luiz Fernando aproveita a oportunidade pra desmentir o boato recorrente em listas e fóruns de discussão de que matérias "polêmicas" teriam afastado anunciantes e, consequentemente, decretassem o pontapé inicial pro declínio da revista. "Acho que as matérias do 'Zona Proibida´ nunca trouxeram problemas nesse sentido, inclusive por que o Beck nunca foi notificado ou advertido pelos administradores dos parques. Ele pregava a liberdade do contribuinte, que paga imposto caros, para usar os parques de forma consciente e organizada. Veja na matéria, por exemplo, do Corcovado de Ubatuba, ele fala dos andarilhos/campistas que estão fazendo coisas erradas", completa.
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