30KM POR TRILHO DO TREM

Mesmo c/ o busão saindo atrasado feriado do niver de SP - chegamos no horário previsto à Angra dos Reis, as 6:30. Assim, eu, a Lu e os recém-casados Guto & Márcia deixamos a rodô sentido a próxima Praia do Anil, onde a linha do trem encosta na avenidona movimentada q beira a orla litorânea. Tomamos o mirrado café numa padoca de bairro, e as 8:30 tomamos o trilho, sentido serra, ou seja, p/ direita! Como estamos ainda dentro do perímetro urbano, este trecho inicial não tem atrativo algum e se limita caminhar entre casebres e cortiços. Alguns caramujos nos dormentes escorregadios parecem lembrar a praga q infesta a região, fora os olhares curiosos dos locais, q passeiam c/ suas indefectíveis gaiolas c/ passarinhos.
Logo q as casas começam a rarear, temos nosso 1º túnel a transpor. De apenas 82m de comprimento em meio a pura rocha, demoramos a atravessá-lo devido à escuridão, à lama, cascalho solto e da disposição irregular dos dormentes, mas serviu como “preview” dos outros 13 q se seguiriam. A chamada "luz do fim do túnel" parece revelar tb jardins de trevos coloridos, capim e pequenas cachoeiras caindo da encosta, sinal q de estarmos já nos limites da cidade, mesmo ainda sendo audível o som da batida "edificante" de um funk. A sensação parece se firmar qdo passamos por uma ponte sobre a própria Rio-Santos, a seguir. Porem, a civilização foi deixada p/ trás de fato qdo bordejamos a morraria de pasto e mato impregnado de cheiro de jaca, acompanhando as torres de alta tensão q seguiam rumo às imponentes montanhas da Serra do Mar, deixando pra trás a bela enseada da baia de Angra. A esta altura o sol começava a fritar os miolos, não corria brisa alguma e agradecíamos aos céus qdo havia um trecho sombreado neste começo de pernada no aberto.
Mas a densa mata nativa não tardou em aparecer, assim como muitas bananeiras, embaúbas e inconvenientes carrapichos (ou picão) q grudavam na gente nos trechos onde a mata insistia em crescer pelos trilhos. E assim foi: ora andávamos metodicamente pelos dormentes c/ atenção, pq estavam escorregadios nos trechos úmidos; ora andávamos rente os trilhos, nos breves trechos onde aparecia um acostamento q permitisse isso. Pode parecer entediante (e é!), mas nunca monótono, já q a paisagem descortinava uma nova surpresa a cada curva ou penhasco transposto.
As 10hrs chegamos aos 2ºe 3º túneis, de 36m e 120m, respectivamente. Quase juntos, eram separados apenas por uma extensa ponte c/ bela arquitetura, sobre furioso rio q serpenteava serra abaixo. Apesar do visu fantástico, cruzar a ponte foi nosso primeiro obstáculo real: havia q cruzá-la rapidamente (pq não sabíamos se o trem passaria), mas isto era impossível pq havia q prestar atenção nos trilhos q pisávamos (olhando p/ baixo) pra não despencar ou escorregar. A Lu q o diga! No final do 2º túnel, a recompensa na forma de pequenas cachoeiras jorrando suas águas sobre os trilhos do trem, vieram perfeitas p/ molhar a goela e aliviar a tensão.
O 4º túnel (75m) veio às 11:30, assim como muitas goiabeiras recheadas. Enqto isso, já estudávamos algum local c/ água p/ "almoçar", afinal, uma placa indicava q já havíamos percorrido11km. Mas como este lugar não chegava, as 12:30 sentamos no trilho p/ comer algo, mas quem comeu de fato foram os pernilongos, q haviam aos montes. Alem disso, nuvens carregadas escureceram o céu e o som de trovoes nos obrigou a continuar a pernada, apenas p/ logo depois atravessarmos mais uma ponte sobre um rio furioso q descia a serra na forma de varias (e belas) cachoeiras. Paramos p/ tomar um breve banho num dos convidativos poços abaixo da ponte bem na hora q uma pancada de chuva tomou conta do vale. Nessa hora, um pequeno trem apitou anunciando sua passagem (sentido Angra) e quase me pega desprevenido no meio da ponte.
O mormaço e umidade pós-chuva tomaram conta da serra, q ficou coberta por uma nevoa quase espectral. Refeitos, tardamos em retomar a pernada pq ficamos um tempo ajudando o Guto a buscar seu óculos, q ficou por lá mesmo. Os curtos 5º e 6º túneis (51m e 63m) tardaram em aparecer, mas o fizeram quase seqüencialmente, ao mesmo tempo q nossa "sobremesa" se limitou a uma banana-anã miúda c/ caroços enormes, q havia aos montes nos bananais rente os trilhos. A nevoa deu lugar ao sol outra vez as 15:30, no momento em q passamos pelas ruínas do q fora a Estação Jussaral, com bons locais p/ pernoite.
Passamos pelo 7º túnel (66m) e o vale se abriu logo depois, revelando o litoral recortado da baia fluminense, ao longe; na direção oposta, o trilho adentrava sinuosamente os desníveis da verdejante serra de forma imperceptível. E veio o 8º túnel (89m), assim como o mesmo trenzinho anterior, desta vez sentido contrario. Qdo as torres de alta tensão passaram novamente a nos acompanhar o céu foi tomado por uma nebulosidade ate o fim do dia, porem ainda estava quente.
A tarde ainda não havia morrido mas como estávamos cansados, as 17hrs largamos as mochilas num terreno arenoso bem amplo à direita dos trilhos, aos pés de um barranco. O fato de ser o único local decente p/ varias barracas (a Lu estreou a dela!) foi decisivo, opção reforçada pela convidativa bica 50m antes dele, no meio da mata. Assim, montamos nossas tendas, tomamos banho e fizemos a janta. Nessa hora passou o "trenzão", uma composição enorme e repleta de vagões carregando chapas de aço q estremeceu nosso modesto acampamento. Comemos, tomamos capuccino e nos entocamos em definitivo assim q começou a garoar. A noite caiu e trouxe consigo uma chuva mediana. No entanto, este detalhe passou desapercebido e não atrapalhou nosso merecido sono diante do cansaço geral, afinal haviam sido quase 23km ate então.

DOS TRILHOS AO ALTO DA PEDRA CHATA

O dia irrompe preguiçoso, nublado claro, mas mesmo assim levantamos as 6hrs. Tomamos café e arrumamos nossa coisas p/ colocar pé no trilho as 7:30. O destaque matinal foi o Guto encontrar um filhote de cascavel nos dormentes de madeira espalhados rente "nossa" bica. Se o filhote tava ai, a mãe provavelmente tb.
Uma breve chuva nos surpreendeu ao transpor uma pequena ponte q atravessava outra queda d”água, bem antes de passarmos pelo 9º túnel (62m), seguido de uma ponte bem maior, encravada entre duas imponentes montanhas forradas de exuberante mata. Pausa p/ clicks. Mais adiante adentramos - quase emparedados - num pequeno cânion, pois os trilhos seguiram um tempão por entre muralhas verticais de pura rocha! Felizmente o trem não passou naquela hora pq não haveria espaço p/ escapar.. Veio o 10º túnel (54m) e o vale novamente se abriu, bem antes do 11º túnel (113m), onde nos encontrávamos na encosta oposta da serra q percorríamos, podendo observar bem nosso local de pernoite. O 12º túnel, o maior de todos, exigiu o uso de lanternas p/ vencer seus 172m. Na seqüência, muitos pés-de-goiaba e bananeiras complementaram nosso café da manha, assim como uma enorme cachoeira despencando por lajotas de pedra (a nossa direita) foi motivo de breve pausa pra fotos.
Qdo o sol teimou em aparecer de vez, foi engolido por uma neblina q abraçou a serra durante um tempão. No entanto, ela não ocultou as belezas do trajeto, como enormes paredões reluzindo sua umidade e pipocados de enormes e vistosas bromélias, onde tb pequenas cachoeiras caiam formando verdadeiros "chuveiros" sobre os trilhos, q nos refrescaram naquele calor abafado matinal. Após o 13º túnel (124m) e ao meio-dia, paramos p/ breve descanso e comer algo, ao mesmo tempo q voltávamos a ter as torres de alta tensão sobre nossas cabeças, sinal q estávamos próximo de Lidice. Havia agora, literalmente, uma luz no fim dos 14 túneis...
Dito e feito, transposto o extenso 14º túnel (212m), chegamos no q restou da velha estação Alto da Serra, as 12:30. Deixamos os trilhos e tomamos a estrada de terra (q se alterna com calcamento de pedras) q desce suavemente a serra p/ nordeste, passando por pequenas roças, fazendinhas e acompanha o Rio Pirai. C/ o sol escaldante daquele horário, foi inevitável um mergulho revigorante nas águas mansas do mesmo. Ainda pela estrada, numa bifurcação tomamos à direita, passando por uma ponte de cimento sobre o rio ate nova bifurcação. Tomamos à esquerda (sentido Lidice) pq a da direita seguia p/ Sertão do Sinfronio (q tomamos erroneamente e tivemos q voltar). As 13:30 e apos cruzar uma escolinha, chegamos num bar do lado das corredeiras e cachoeiras do Rio das Pedras, um local bem bonito, porem muvucado. Aqui tb há nova bifurcação: esquerda desce p/ Lidice e direita vai p/ Casa do Bispo e p/ Pedra Chata, quase 8km serra acima. E aqui tb tivemos nossa 1ª baixa, já q a Lu seguiu p/ Lidice devido a um imprevisto de ordem pessoal.
Com o quarteto reduzido a trio, seguimos pela estrada no vale do Rio das Pedras - bordejando a encosta esquerda da serra - à mercê do sol inclemente, inicialmente subindo suave mas q depois fica bem íngreme, exigindo muitas paradas p/ retomada de fôlego, principalmente p/ Márcia. Felizmente, antes da cachoeira do Suíço um jipe dá carona; infelizmente havia lugar apenas p/ Márcia e pras nossa mochilas, mas ta valendo! Depois soubemos q o motorista era o Bispo cuja casa tínhamos q alcançar. Sem peso extra, eu e o Guto ganhamos altura rapidamente, passamos por uma igreja, uma escolinha e mais adiante tomamos uma calcada cimentada q sai da estrada, à esquerda. Pouco depois e totalmente suados, chegamos na Casa do Bispo, uma casa do lado de uma capela de formato octogonal. La fomos convidados pelo mesmo e pela jovem freira Iza a tomar um café, q não recusamos, obvio! O bispo, ou melhor, Seu Vital - um senhor holandês q no alto dos seus 80 anos esbanja vigor e simpatia - nos contou q é bispo aposentado q fez dali seu retiro de final de semana, entre muitas outras coisas.
O papo tava bom, mas devíamos prosseguir, mesmo com a fina chuva q tornava a cair lá fora. Nos despedimos do gentil senhor e pusemos pé-na-trilha, as 16:30. Da casa bastou tomar um rabicho de trilha q sobe a encosta de pasto e passar uma porteira, onde a trilha ta meio q coberta pelo mato rasteiro q cresceu. Mais adiante entramos na mata ate esbarrar noutra porteira (antes de um rio, q não cruzamos), onde toma-se uma picada q sobe o morro pela esquerda, alguns metros antes. Após transpor novo riachinho e outra porteira, saímos novamente no pasto, onde vários sulcos podem confundir, mas basta tomar qq um pois todos sobem a encosta pro mesmo destino. Ao tomar fôlego p/ continuar, se olharmos à nossas costas temos já uma bela vista do vale percorrido até então.
Entramos novamente na mata, q descemos um pouco ate chegar num riacho. Pulando de pedra em pedra, passamos pra outra margem, onde a trilha sobe à esquerda, acompanhando o rio serra acima durante um bom tempo. Este trecho ta com mato alto cobrindo boa parte da picada e repleto daquele bambuzinho chato q insiste em se agarrar em qq saliência da mochila e q gruda como velcro na pele e roupa. No entanto, a trilha ta la, bem marcada e obvia. Chegamos, então, num córrego q desce cruzando a trilha, q nos abastece do precioso liquido pela ultima vez. Perto do riachinho há nova bifurcação, onde toma-se a direita, e subimos aos ziguezagues por quase uma hora, eventualmente tendo q remover alguns bambus enormes secos q simplesmente caem em função dos temporais de verão. A trilha é mais nítida, porem íngreme, úmida e escorregadia, fazendo com q Guto e Márcia fiquem um pouco atrás.
Chego, enfim, na crista, mas não o cume. A trilha ainda desce um pouco em mata fechada ate um selado de ligação, onde há uma água "parada" (da qual bebi sem nenhum problema) p/ subir bem forte a seguir, em meio a um corredor de enormes bromélias, as vezes nos valendo das raízes salientes como degraus. Logo saímos num amplo capinzal q praticamente é o topo da estreita crista, as 20hrs, onde montamos as barracas junto às poucas (e baixas) arvores, próximas do q sobrou de um "refugio" de palmiteiros, e q servem de eventual proteção, pois é bastante exposto. Mesmo escurecendo e parcialmente encoberto, deu p/ reparar nas luzes da orla, cintilando ao sul. Extremamente cansados, preparamos a janta e nos recolhemos em seguida. Eu ainda fiquei cuidado de uns ralados e assaduras no pé provocados pela areia dentro da bota, mas logo a seguir tb cai no sono, mesmo c/ corpo td moído e dolorido.

VARANDO SERRA ATÉ O SINFRÔNIO E OS TIOZINHOS SINISTROS

Acordamos animados, as 7hrs, pela perspectiva de bom tempo naquela manha de sábado. Aos poucos, o vento desfazia as nuvens carregadas - q nos presentearam c/ chuva fina de madrugada - descortinando um céu azul maravilhoso, as montanhas ao redor e um arrebatador visu do litoral do alto daqueles quase 1600m: os raios do sol sendo filtrados por nuvens no horizonte conferiam à baia de Sapetiba, de Mangaratiba e à restinga de Marambaia um aspecto de pintura impressionista; e revelou os picos próximos, tais como o Pão de Açúcar e Pico do Papagaio locais, q o dia anterior estavam ocultos por nuvens grossas, alem das demais verdejantes serras se esparramando tanto pro litoral, como afunilando o Vale do Rio das Pedras, as nossas costas. Lidice, por sua vez, estava td encoberta por um tapete de nuvens carregadas.
8:30 iniciamos a descida, ligeiramente + ágeis e rápidos q na subida, apenas atentando ao chão escorregadio (e forrado de folhas úmidas) do trecho em ziguezagues pelos bambus. Mesmo assim, derrapagens e tombos foram inevitáveis. Chegando na bica tivemos breve pausa de lanche, p/ logo depois bordejarmos o rio serra abaixo atraves da trilha onde agora o mato invadindo a mesma estava todo umido, nos encharcando por completo. Cruzamos o rio, saimos do mato, descemos o pasto, passamos pela porteira, etc... enfim, as 10:45 já estávamos na Casa do Bispo, onde novamente Seu Vital nos convidou a descansar e comer algumas frutas frescas. Alem, claro, fez questão de dar a bênçao ao Guto & Márcia, assim q soube q estavam recém-casados.
Meia hora depois nos despedimos, retornando pela mesma estrada q viéramos. Havia muito q andar: devíamos retornar à bifurcacao do bar (uns 6/7km) p/ tomar o caminho p/ Vale do Sinfronio. Contudo, indagamos da possibilidade de cortar caminho atraves das montanhas à nossa esquerda (oeste), pq isso nos pouparia de descer ate o bar e subir td novamente!! Felizmente, mal pusemos pé na estrada esbarramos c/ um local, Seu Adão, q nos disse q isso era possível sim e nos levou ate o inicio deste atalho! Beleza! Assim, da estrada adentramos por uma porteira (à esquerda), cruzamos o Rio das Pedras por uma ponte pênsil, p depois seguir um trilho enlameado atraves de um labirinto de bananeiras, esbarrando eventualmente c/ algum roçado ou casinhas de pau-a-pique, subindo suavemente. Finalmente, seu Adão nos deixou numa trilha ao pé do enorme morro, do lado de um córrego q o descia. Ouvimos bem as recomendações dele pq agora seria por nossa conta.
Subindo a trilha aos ziguezagues, logo saimos do bananal p/ dar numa íngreme encosta de pasto. Daqui em diante nos tomou um tempão não sometne pela forte inclinação mas tb pelo sol bravo castigando nossa cachola, nos obrigando a várias paradas p/ descanso e goles de água! Contudo, o caminho era obvio e mesmo se dividindo em vários trilhos de vaca todos convergiam mais adiante, sempre acompanhando um riachinho no meio de uma mata, à nossa direita. Ganhando altura rapidamente, olhando pra trás ficamos pasmos com a beleza do vale, visto agora da encosta oposta quase à mesma altura do trecho inicial pelo qual descêramos pela manha.
1hr e meia subindo em ritmo de tartaruga-manca, a trilha logo vira p/ direita indo de encontro ao riachinho, em meio a mata. Descanso na sombra, onde aproveito p/ me refrescar num pequeno poço formado entre as pedras. Um stress toma conta do casal, mas nada q uma molhada de cabeça não resolva. Ainda subindo a encosta de pasto damos num pequeno curral, de onde a trilha continua, cruza o riachinho e passa a acompanhá-lo pela direita, pasto acima. As 14:30 e após passar pela nascente do riachinho, chegamos à crista da serra, onde há uma porteira trancada. Nova pausa p/ descanso, mas retomamos a pernada assim q notamos, ao sul, nuvens carregadas e escuras se avizinhando sobre Lidice vindo na nossa direcao.
Saltando a porteira, o trilho desce p/ outro lado da serra, bordejando suavemente nova encosta de pasto pela esquerda e de onde já avistamos um curralzinho vale abaixo. Galgando trilhos de vaca sucessivamente, alcançamos o mesmo (sob olhar perplexo das vaquinhas) p/ depois acompanhar uma cerca (à direita), agora cercados de mata. Imediatamente damos numa casinha, onde um "tiozinho desdentado" nos indica o caminho. Mas nem precisava, pq bastava seguir adiante q logo saimos do mato p/ cair numa bonita fazenda, onde havia outro "tiozinho estranho", q parecia não falar mesmo qdo lhe dirigiamos a palavra. Na verdade chegamos na Pousada do Zé Angu (sem sinal de vida) pelos fundos, já no Sertão do Sinfronio, as 16hrs. Saltando pelas pedras o largo Rio Papudo, q é o nome do Rio Pirai no alto da serra, e damos na estrada (ou melhor, no final dela) q vem de Lidice, distante quase 10km. O local é de uma beleza bucólica singular, com belo gramado, arvores frondosas e a Cachu do Papudo, uma linda queda dágua c/ largo poço de águas cristalinas na qual não fizemos ceremonia em cair. Dose foi ter como platéia cara-de-pau os tiozinhos (o "desdentado" e o "estranho"), q pelo visto não viam mulher há séculos, deixando a Márcia meio sem graça. Eu bem q soltei meu cabelo pra atrair a atenção deles, porem, sem sucesso.. Por mim acampava ali mesmo, mas a presença dos curiosos tiozinhos deixou o casal c/ certo receio (ou neurose?). Ou seja, continuamos a pernada, mesmo sem saber se haveria no trajeto lugar decente p/ estender a barraca. E o cansaço pegando..
Do gramado q marca o fim da estrada sai um trilho q sobe um morro p/ direita, passamos batido uma porteira (à esquerda), subindo suave por um caminho q é cruzado por pequenos corregos e é ora enlameado ou pedregoso. Saimos brevemente no aberto ate alcançar um barraco, e logo depois um riacho. Entre os dois há uma picada escondida q cruza o rio, segue pelo capinzal e sai numa encosta, mais acima. Adentramos outra vez na mata fechada em definitivo, q serpenteamos sem gdes desníveis. A trilha é clara e cortada por pequenos corregos, embora em alguns trechos matacoes de bambuzinhos teimem em invadi-la, insistindo em se agarrar à gente por mera afinidade; desvencilhar-se dos mesmos as vezes deixava braços e pernas cortados e arranhados, alem de transformar minha bermuda numa tanga. Vez ou outra alguma picada sai discretamente pela esquerda, mas deve-se seguir sempre pela trilha principal, ou seja, pela direita e sentido sudoeste. E o cansaço pegando..
O Guto insistia em chegar na Est. Jussaral (distante ainda umas 3hrs!), o q seria mto puxado, principalmente p/ Márcia, q dava sinais de exaustão. Eu tb já tava estressado, tendo chiliques e c/ saco na lua de andar, pois alem de cansado meus pés esfolados reclamavam de dor. Assim sendo, eu e Marcia "intimamos" seu teimoso e decidido maridão a pernoitarmos por ali mesmo, assim nos poupávamos de desgaste desnecessários; compensaríamos o dia sgte, levantando + cedo e + dispostos. Como atendendo nossa preces, numa suave descida em meio à trilha havia um local plano o bastante p/ gente, proximo de um brejo, repleto de cipós e bambus. Limpamos o dito cujo e montamos acampamento as 18:30, já escurecendo e um pouco antes q começasse a chover! Felizmente fora uma pancada breve, mas suficiente p/ deixar o local bastante úmido e frio até. No entanto, o cansaço falou mais alto, e foi so preparar a janta q na seqüência caí no sono, indiferente aos sons da mata, aos vagalumes q cintilavam la fora e às muriçocas q pediam encarecidamente p/ jantar na minha barraca. Outra: como as propriedades da banana vao alem da fonte de potassio - se estendendo ao acúmulo de gases - e eu havia me entupido das mesmas, por pouco minha tenda nao infla e sai voando, tal qual um balão piramidal..

DESCENDO A SERRA ATÉ ANGRA

A ideia era sair as 5hrs mas o fizemos às 7hrs, preocupados em chegar a tempo de não perder nosso bus. Tomamos um rápido café (afinal, estávamos quase zerados de comida) e deixamos as mochilas engolirem o equipo, p/ retomar a pernada pelo Sinfronio, q fora um antigo e ilustre morador ( "o véio Sinfrônio", segundo Seu Vital) q emprestou seu nome ao local.
A trilha segue sinuosa por mata fechada e bordeja a encosta esquerda, e 10min após iniciada pernada chegamos no q pareceu ser o fim dela, diante de um barranco enorme q dá vista ao litoral, ao longe, emoldurado pelas onipresentes matacoes de bambus. No entanto, a trilha continua poucos metros atrás (à esquerda), sobe brevemente um topo de serra, p/ depois descer definitivamente, ingreme e forte os quase 700m restantes, em ziguezagues intermináveis cercados de mata, pau-brasil e bambus, sem nenhum visual. Eventualmente há pequenas janelas na floresta, mas q apenas permite apreciar fragmentos de paisagem, bem diferente da fartura de visus do topo da Pda Chata e ate do trecho feito na linha do trem. A trilha ta bem marcada e é obvia, porem havia tempo ninguém a utilizava pq havia muita mata caída em alguns trechos cobrindo a picada, alem de muita (muita mesmo) teia de aranha q vinha de encontro direto no meu rosto, algo q particularmente me deixa agoniado.
Após 1 hora de descida, a trilha parece seguir uma curta crista, mas logo volta a descer em ziguezgues a encosta por mais um tempão, onde começam a surgir os primeiros sinais de "civilização" na trilha, ou seja, lixo. As 9hrs chegamos numa bifurcacao: tomamos à da esquerda (em frente), aparentemente + fechada; já a da direita, mais batida (e p/ trás) provavelmente tb devia descer a algum bairro. A pernada parece nivelar, mas logo volta a descer, porem suavemente em meio à mata fechada e algumas voçorocas de bambus caídas sobre a trilha. Cruzamos o primeiro riachinho do dia, onde abastecemos nossos cantis, e em seguida saimos da mata p/ acompanhar uma cerca ate sua porteira. Daqui basta ir p/ direita, por um túnel de vegetação na encosta q parece encobrir a trilha na maior parte do trajeto, sempre atentando pro calcamento escorregadio de pedras repletas de limo, q nos presenteou com mtos capotes.
Após passar uma cx dagua enterrada no solo, já podemos avistar a linha do trem logo abaixo ate descer, paralelamente à mesma. E assim, as 10hrs estamos novamente na Estação Jussaral, pela qual passáramos 3 dias atrás! Descansamos merecidamente nos trilhos enqto devoramos um cacho enorme de bananas q o Guto encontrou no trajeto. Lanche mto bem-vindo pq nossas mochilas já estavam vazias faz tempo! Dali, andamos um pouco pelos trilhos e vemos a picada saindo pela esquerda, descendo o resto de serra atraves do q logo se torna uma "quase estrada" em meio à mata, agora descendo suavemenente. Ainda bem q o trecho td é sombreado, pq neste horario o sol estava de rachar e o calor era insuportavelmente abafado!
As 11hrs chegamos numa bifurcacao, já no perímetro urbano: p/ esquerda e 1hrs de pernada dariamos no bairro da Banqueta, onde disseram haver umas cachus q por pouco não nos seduziram. Mas optamos seguir p/ direita, pro bairro do Belém, bem mais proximo e com fácil condução, onde chegamos em menos de meia hora já largando as mochilas no primeiro bar q encontramos, do lado do pto de bus, alem de tirar as botas p/ deixar os pés respirarem, claro! Comemoramos o sucesso da empreitada com cerveja, refris, açaí e uns improvisados sandubas de mortadela c/ salame q tavam uma delicia! Após enrolar e descansar no bar, tomamos o bus p/ Angra as 13hrs, onde chegamos 30min depois. Guto & Márcia tomaram banho na toalette enqto eu o fiz na mangueira do jardim, la fora. Ficamos bem a vontade, exibindo nossas marcas de guerra como valiosos troféus, desde trocentos arranhões e ralados pelo corpo todo até enormes bolhas negras no pé q mais pareciam tumores.. As 15hrs partiu nosso bus p/ Terra da Garoa, viagem tediosa de absurdas 8hrs, primeiramente pela linda Rio-Santos e depois pela infernal e demorada Tamoios. Não fosse o filminho do 007 q rolou ia ter um troço.. Chegamos em SP por volta das 23:30, a tempo de não perder a ultima condução p/ casa.
Assim, numa das regiões mais movimentadas da costa brasileira, este trecho da Serra do Mar felizmente ainda se beneficia da própria geografia possibilitando novas alternativas a andarilhos em busca de novidades. Desta maneira, é possível sim ainda descobrir estes belos recantos isolados q escapam do turismo de multidões, mesmo estando bem do lado dos mesmos. Porém, é esta mesma geografia, acidentada e recortada, q seleciona naturalmente esta rara visitação a lugares q ninguém vai. Lugares onde a serra ainda é chamada carinhosamente de sertão.

Por Jorge Soto
______ Designer por profissao
______ Montanhista e trekker por paixao
______ Mochileiro nas horas vagas
______ jorge_beer@hotmail.com


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TRILHOS & TRILHAS DA ANGRA DOS REIS-LIDICE — Por Jorge Soto/Fotos José Augusto
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Próxima dos principais centros urbanos do pais, a Rio-Santos, revela bem + q uma seqüência de praias badaladas. Antes da serra cair no mar e adentrando na região montanhosa entre Angra dos Reis e Lidice, encontraremos trilhas desconhecidas, rios cristalinos e cachus refrescantes em meio a exuberante Mata Atlântica. Assim, percorremos esta região num circuitão de 4 dias, subindo a serra pela linha do trem sentido Lidice, alcançar o alto da Pedra Chata e retornar à Angra pelo Sertão do Sinfrônio. Emendando varias caminhadas locais de uma vez só, esta puxada travessia desvenda uma Serra do Mar menos conhecida, c/ cenários q não deixam em nada a desejar à sua contrapartida litorânea mais ilustre e agitada.