DA LAPINHA AO ERMO DAS GERAIS
Após sair da acinzentada
sampa na madruga de quarta (feriado) e percorrer exaustivas 7hrs de asfalto,
chegamos na capital mineira às 10:30. No volante tava o elétrico
Zé Carlos, acompanhado pelo Alê ("Lion Man", para os
intimos); no banco de trás, eu e a Lu tentávamos dormir nos
momentos em q o falatório geral dava trégua. Num piscar de olhos,
nos vemos serpenteando morrotes c/ vegetação arbustiva e ressequida,
sinal q já estávamos, as 13hrs, em Santana do Riacho, vilarejo
encravado aos pés da Serra do Cipó. Sem titubear, fomos p/ Pousada
3 Coracões, local q tínhamos como referencia de nossa incursão
anterior pela regiao, afim de deixar o veiculo e negociar transporte/resgate
de nossa pernada. Recebidos pela simpática Dna Maria do Rosário,
nos avisou q seu marido, Seu Valdir, tava fora e não poderia ver isso
p/ gente. Entretanto, nos arrumou um taxista vizinho, Seu Alair, q se dispôs
a quebrar nosso "galho" logístico, embora não mostrasse
muita certeza de conhecer bem onde seria nosso resgate. De qq forma, confiamos
em sua solícita boa vontade em nos ajudar e pegamos seu tel de contato,
q por sinal era o mesmo da pousada da Dna Maria.
Dessa forma, nos esprememos no empoeirado Uno de Seu Alair e rumamos p/ Lapinha,
distante 9km dali, acompanhando os paredões imponentes da Serra do
Breu à nossa esquerda. Ignoramos a bifurcacao direita p/ Lapinha (q
em 2km nos levaria ao vilarejo homônimo) e seguimos em frente pela empoeirada
estradinha por alguns kms. Finalmente nosso avanço é barrado
por uma porteira c/ uma lacônica placa anunciando "Propriedade
Particular - Proibido Acampar e Nadar". Era hora de descer. Nos despedimos
de Seu Alair e após alguns ajustes finais nas pesadas cargueiras e
comer alguma coisa, começamos, enfim, nossa travessia as 14:40hrs.
Após a porteira, foi so andar pela precária estradinha q acompanha,
ao longe, o sopé da serra sentido noroeste, tal qual o córrego
Lapinha. Esta estradinha (um carreiro largo) é o q sobrou do Caminho
Colonial de Sta Luzia pro Tijuco, utilizado antigamente pelos bandeirantes
no transporte de pedras preciosas e q hj ainda é usado pelos locais,
de preferencia de moto ou cavalo. Este inicio de caminhada é tranqüilo
e s/ maiores desníveis, bordejando pequenos morrotes e passando por
duas pequenas fazendinhas q parecem vazias. Aos poucos, o caminho sobe imperceptivelmente,
indo de encontro aos paredões, cada vez + próximos tendendo
a se afunilar num largo e gde canion.
Mas logo passamos outra cerca (Faz. Cachoeira), a trilha se estreita e os
horizontes novamente se alargam, sempre ladeando paredões pela esquerda.
Contudo, os campos q se abrem não são de capim e sim campos
rupestres de perder a vista, dando a impressão q andamos em meio a
ruínas de alguma civilização perdida salpicada de cactos.
Os formatos curiosos q as rochas aqui apresentam são diversos, mas
a gde maioria corresponde a afloramentos rochoso apontando numa so direção,
tal qual mísseis! À oeste avistamos um vale paralelo bem fundo,
por onde singra o Córrego Fundo.
Logo as pedras dão lugar ao 1º gde platô do percurso, salpicado
de canelas-de-ema e sempre-vivas, q balançam na brisa suave do meio
da tarde. O caminho agora deriva p/ norte/nordeste, qdo encontramos um tiozinho
montado num velho cavalo vindo no sentido oposto, Seu Chico, q nos dá
infos preciosas. Subindo ate um colo de serra, passamos 2 casinhas aparentemente
abandonadas (uma delas do Seu Chico) e duas cercas, sempre em franca ascensão.
Na 2ª porteira, contornando um morro, deixamos o caminho e tomamos uma
picada à esquerda q nos leva ao leito de um rio (seco) q desce suavemente
por um bom tempo ate outro platozao à oeste, q parece ser o amplo vale
de um rio maior.
Acompanhando o leito deste rio seco, ora pelo capim ora saltando de lajota
em lajota, alcançamos o vasto platozao onde damos numa gde área
de acampamento (plano e forrado de areia clara e pasto ralo) às margens
de um rio encachoeirado mto bonito, o Rio das Pedras. Embora houvesse uma
placa detonada anunciando q era proibido acampar, foi aqui mesmo q jogamos
as mochilas no chao, dado o horario avançado. Cansados do dia exaustivo
(viagem + pernada), vestimos nossos agasalhos pois esfriava rapidamente enqto
o sol mergulhava na morraria à oeste. Assim, nossas barracas tomavam
forma a exatos 1.212 m de altitude, as 18hrs, neste bucólico local
q faz parte da Reserva Natural "Ermo das Gerais".
Assim q escureceu, a temperatura caiu drasticamente, minando nossas intencões
de banho no convidativo poço ao lado do acampamento. Paciência,
assim nos esmerariamos + no preparo da bem-vinda e suculenta janta, q veio
acompanhada de um delicioso vinho francês providenciado pelo Zé!
Não sobrou uma gota, claro! Na sequencia nos enfiamos a nossas respectivas
tendas, no mesmo instante em q o tempo começou a fechar. Aquela noite
foi bem fria, ventou muito e, contrariando a previsão meteorológica,
teve totalmente c/ ceu encoberto e até chuva! No entanto, a essa altura
do campeonato já havíamos desfalecido nos braços de Morpheus,
e prontos pro q der e viesse no dia sgte.
DO RIO DAS PEDRAS AO POÇO SOBERBO
O dia amanhece nada promissor:
encoberto, c/ vento frio e uma névoa q, alem de impedir visibilidade
alem dos 500m, ocultava os picos de morros proximos. Ainda assim, as 6:30
obrigo td mundo a ir se arrumando, sob protestos da Lu, q queria permanecer
no aconchego da barraca ate a névoa se dispersar. No way, tínhamos
um cronograma q devia ser seguido à risca, independente das condições
climáticas. Felizmente, o tempo logo ficou + ameno, permitindo q as
atividades prescritas fossem efetuadas em seu ritmo normal. Na duvida entre
subir ou descer o rio, após sondar terreno decidi "democraticamente"
q o desceríamos. Assim, após breve café e devidas arrumações,
jogamos a cargueira nas costas, partindo às 8:15.
Saltando as pedras, atravessamos o rio seguindo pela sua margem direita num
carreiro q ia na mesma direção, isto é, oeste. Adentramos,
entao, numa brecha da serra ate sermos recebidos, as 9:30, pela imponente
Cachoeira Bicame, por onde o Rio das Pedras despencava verticalmente num par
de quedas de + de 30m num enorme e fundo poço acobreado! Após
muitos cliques da parte de cima, descemos ate a base da cachu, onde fizemos
um pit-stop básico, já q o local merecia + tempo p/ contemplação:
a Lu não se conteve e mergulhou no poção frio, p/ vergonha
da trupe masculina q sequer ousou molhar o dedinho; o Lion delirava c/ as
possibilidades dos "boulders" das pedras ao redor; o Zé Carlos
brincava c/ sua parafernalha eletrônica marcando o lugar no gps; e eu
apenas observava td aquilo, já estudando a continuidade da pernada
analisando a carta e o terreno em volta.
A parada tava boa, mas tínhamos q prosseguir, agora p/ oeste. Assim,
acompanhamos o rio descendo a serra (por trilha) atraves de um cânion
q aos poucos se afunilou, onde acabamos dando noutra bela cachu agraciada
de outro poção. Aqui o rio despenca verticalmente em meio a
varias fendas descendo a serra, e a trilha se afasta p/ direita, primeiro
num amplo platô repleto de capim ralo, p/ depois descer em 3 longos
ziguezagues, reencontrando o rio no fundo vale abaixo, onde este parecia prosseguir
sua jornada + calmamente. Na trilha de descida rumo ao Vale do Soberbo, cujos
poções já eram visíveis de cima, a Lu teve o irresistível
desejo de beijar ardentemente o chão, forrado de pedrinhas brancas
e cristais escorregadios. Tal vontade resultou num rosto machucado, uma toalha
ensangüentada, preocupação generalizada e duvidas qto a
conclusão da travessia. Mas nossa única representante do sexo
frágil, guerreira do jeito q ela é, não titubeou em seguir
em frente afirmando q "não era nada"!
Assim, após longo ziguezague, veio um trecho de "desescalaminhada"
em meio a mato e pedras, ate cairmos no q pode ser chamado de "Poço
Soberbo", um bucólico vale encravado no meio da serra e repleto
de áreas p/ acampamento, poços e cachus de tds os tamanhos,
alem de restos de uma antiga mineração de diamantes datada dos
anos 60, explorada por gringos. O rio culmina num gigantesco poção
acobreado aos pés de outra cachu, desaguando, enfim, numa monumental
fenda afunilada da serra. Ah, ali tem muito, mas muito carrapato tb! Neste
local pitoresco e ate mistico tivemos nossa parada p/ descanso e lanche, as
13:15hrs, sob a sombra fresca de escassas arvores, já q há muito
a nebulosidade matinal tinha ido embora dando lugar a um sol de rachar côco!!!
Após dar um rápido visu na área de mineracao - cercada
de vestígios de instalações dos antigos garimpeiros,
caldeirões naturais cravados na rocha e algum material pesado corroído
pelo tempo - retomamos nossa jornada. Pulando brejos, passando por vários
cochos e saltando outro riacho, seguimos as picadas q desta vez nos levavam
ao longo do Vale do Soberbo, agora sentido noroeste. Aqui há varias
picadas paralelas, mas tds acabam convergindo numa só a medida q se
avança, sempre em meio a vegetação arbustiva e algumas
arvores. O Rio Soberbo se mantem sempre à nossa direita e - após
descer encachoeirado por dobras na serra - desce paralelo à mesma,
se junta c/ o Rio das Pedras p/ formar, por fim, o tal Poço Soberbo.
Enquanto o rio desce, nos subiamos s/ gde inclinacao o vale ate dar outra
vez no topo da serra, onde se descortinam os campos altos q se abrem por mais
de 40km, as 15:30hrs. Agora basta seguir desimpedidamente pelo pasto rumo
noroeste, atraves da enorme "avenida" formada neste 1º degrau
e vasto platô da Serra do Cipó, ladeado por um interminavel paredão
rochoso à nossa direita. Já havia estado aqui no Carnaval, portanto
não demorou identificar qdo atravessamos o Córrego dos Quartéis,
as 16hrs, onde abastecemos nossos cantis.
As 17hrs e relativamente cansados, decidimos estacionar em definitivo numa
enorme (e oportuna) clareira no pasto, à margem da trilha. Acampamento
montado a 1.062m de altitude, desabamos no interior de nossas barracas p/
logo em seguida preparar a janta (regada a vinho chileno!), assim q o sol
caiu, silhuetando os contornos da serra, à oeste, e trazendo consigo
a escuridão, o frio e um vento consideravel. Na sequencia nos entocamos
no aconchego dos sacos-de-dormir, as 20hrs, p/ so sair deles na manha sgte.
Durante a noite saí p/ "regar a moita" e fiquei apreciando,
diferentente da noite anterior, um céu coalhado de estrelas, rasgado
esporadicamente por algumas estrelas cadentes. Coisas do interior mineiro.
DO ALTO DA SERRA ATÉ O VALE DO BARBADO
Levantamos as 6hrs, refeitos
da noite bem dormida, ou quase. A Lu cismou q ouvira alguma coisa andando
proximo da barraca dela; o Lion cismou c/ a presenca de pequenos escorpioezinhos
à noite; e eu cismara q havia uma "onça" dentro da
barraca do Zé Carlos.. O dia, como sempre, amanhecia encoberto mas
logo o vento foi dispersando a nebulosidade p/ dar lugar a um ceu azul límpido
e um sol q + tarde fritaria miolos. Após nosso desjejum e as mochilas
engolirem o equipamento, zarpamos dali as 8hrs c/ o devido cuidado de não
carregar baratinhas selvagens ou aranhas na bagagem.
A pernada prossegue desimpedida pelo descampado, s/ variação
alguma de desnível. Um sossego só, sempre acompanhando o paredão
imponente da serra à nossa direita. No caminho, muitas flores despertam
a atenção da Lu e a presença de uma sequencia de rochas
planas fincadas perpendicularmente no solo + parecem lapides naturebas ou
monólitos q registram silenciosamente nossa passagem naqueles campos
ermos. Mas logo adiante temos o 1º sinal de vida do dia, na forma de
uma rústica fazendinha, o Sitio do Dante. La, um rapaz (c/ piercing
no olho) cortando cana nos dá algumas infos, alem de nos medir dos
pés à cabeça c/ seu olhar; nossas mochilas despertam
sua atencao, alem do enorme curativo em forma de "T" na rosto da
Lu. Suas infos batem c/ nosso roteiro, mas suas otimistas previsões
de tempo-espaço ("Vcs chegam em 3hrs em Fechados, a cavalo!")
nos deixam ressabiados, nos lembrando + uma vez q em terras mineiras as distancias
tem outra referencia. Medidas no jeitinho "mineirês" do "é
só um tirinho", o q pode ser uma horinha pode ser traduzido por
mais um dia.
Sempre em frente pelos campos, s/ maiores dificuldades de navegação,
a pernada foi uma sequencia tranqüila de fáceis obstáculos
e alguns atrativos: bordejamos o Rio Cachoeira pela direita durante bom tempo,
contornamos algums capões de mata, pulamos uma cerca, ladeamos em suaves
sobe/desces pequenos morrotes do caminho, desviamos de um enorme brejão,
atravessamos um enorme trecho de pasto queimado (sob o olhar curioso de boizinhos)
e atravessamos uma curiosa e exuberante florestinha de baixas arvores de galhos
retorcidos, típicas de cerrado.
As 10:30 um enorme morro se interpõe no caminho. Descemos suavemente
ate um capão de mata em sua base (onde abastecemos os cantis num córrego),
varamos um pouco de mato e ganhamos a encosta esquerda do morrao, onde retomamos
a trilha. À nossa esquerda vimos outra casinha, provavelmente o Sitio
do Álvaro (pelas infos do rapaz ), do lado de uma simpática
igrejinha de pedras. Sempre em frente, a picada sobe o morrao p/ agora bordejar
sua encosta direita, descortinando imponentes paredões, agora + recortados
em td sua extensão. Cansados, num trecho suave desta encosta fizemos
nosso pit-stop de almoço, as 12hrs, sob a sombra fresca de algumas
das poucas (e miúdas) arvores q ali havia. Realmente, este trecho é
bem + ressequido e desolador q o dos dias anteriores. E mto quente.
Dando continuidade à pernada, logo os horizontes se abrem e podemos
apreciar o Vale do Barbado, q se estende à noroeste numa continuação
do platozao anterior, sempre tendo o paredão da serra à direita.
E é pra la q temos q seguir, mas antes, porem, bordejamos um capão
de mata (repleto de laranjas!) q nos leva ate o enorme e largo Rio Preto,
q temos q atravessar. Felizmente encontramos um trecho em sua margem fácil
de descer e pudemos atravessa-lo s/ problemas c/ água apenas ate o
joelho! Aqui tivemos + uma breve parada , alem deste q vos escreve ter seu
1º e merecido banho.
Após o rio, intuitivamente adentramos no largo Vale do Barbado, ate
reencontrar a picada em meio aos lajedos, q ora acompanha o Rio Barbado pela
direita ora pela esquerda. Após bordejar alguns capões de mata,
notamos q o vale lentamente se afunila e somos obrigados a caminhar pela suave
encosta à esquerda do rio, em definitivo, já q à direita
são paredões recortados por enormes afloramentos rochosos. Desta
forma, lentamente ganhamos altitude, mas o sol escaldante, o calor seco e
a sombra escassa deste trecho tornam o caminhar lento, alem de deixarem a
Lu de cara amarrada.
A medida q nos aproximamos do alto da serra (e nos afastamos do rio), a presença
de enormes pedras pontudas e campos rochosos pipocados de canelas-de-ema aumenta
consideravelmente e, as 16:30, resolvemos encerrar o expediente daquele extenuante
dia. E o local não poderia ser + convidativo: um pequeno platô
forrado de pasto um pouco antes do alto da serra, c/ um visu magnífico
de td Vale do Barbado. E o melhor, c/ uma pequena nascente do lado! Devidamente
estabelecidos, ficamos o resto da tarde descansando ou simplesmente à
toa: eu fiquei removendo carrapatos pelo corpo todo, me coçando dos
arranhados e estudando o trajeto no mapa do dia sgte; o Lion e o Zé
divagavam sobre o "Senhor dos Anéis", se o Frodo tinha caso
c/ o Legolas ou se o Gandalf tinha corneado o Bilbo; e a Lu provavelmente
ou cuidava de seus ferimentos de seu semblante ou se banhava em lenços
umedecidos p/ se emperiquitar p/ + uma janta.
Assim q a noite caiu, jantamos e eu apaguei antes das 20hrs, apenas acordando
altas horas da madru devido ao forte vento q chacoalhava minha modesta choupana.
La fora, a 1.234m de altitude, a lua iluminava de forma deslumbrante os paredões
à nossa volta, ofuscando parcialmente as zilhoes de estrelas q cintilavam
no bréu do firmamento. Fora isso, a noite transcorreu s/ maiores incidentes
e, diferentemente das anteriores, não fora tao fria.
FIM DE TRAVESSIA E INICIO DO CHÁ-DE-CADEIRA
O sábado amanheceu da mesma forma q os dias anteriores, isto é,
nublado. Mesmo assim levantamos cedo pra zarpar na sequencia, as 8:10 pois
não nos faltava muito pra concluir a trip e nossa intenção
era ainda naquela tarde retornar a sampa. Ao menos era isso em tese.
Num piscar de olhos alcançamos o alto da serra, apenas p/ constatar
q lá ventava forte e frio pacas, cobrindo de razão nossa decisão
de ter acampado antes de la chegar. Novamente nos altos descampados da serra,
emoldurados por baixas colinas de rochas de quartzito, bastou derivar p/ esquerda
em meio ao pasto ralo, agora sempre sentido oeste. Pulamos uma cerca e contornamos
o morrao sgte por sua encosta esquerda, apenas p/ perceber q devíamos
ter descido antes por outra trilha q havíamos passado batido e seguia
na direção desejada. Não faz mal, continuamos bordejando
o morro e logo descemos por uma crista menos inclinada ate chegar na sua base.
Lá bastou tomar uma das varias picadas q subiam os morrotes sgtes e
iam p/ oeste. Pronto.
Logo, aos ziguezagues alcançamos o extremo de uma vasta planície
de capim q tínhamos q palmilhar de ponta a ponta, sempre sentido oeste,
cientes q no final chegaríamos numa descida final e, finalmente, na
baixada. Aqui estava repleto de trilhas de vaca se cruzando, mas bastou tomar
aquela q simplesmetne ia na direção apontada pela bússola.
Dessa forma alcançamos novamente a beirada da serra q começamos
a descer, primeiro s/ mta declividade - atraves de carreiros arenosos, picadas
de terra marrom ou trilhos cristalinos - p/ depois andar por íngremes
pirambas, sinal q agora estávamos num vale, provavelmente o do Rio
Fechados.
Essas suspeitas se confirmaram qdo encontramos, as 11:16, uma tiazinha lavando
roupa a beira de um gde e belo rio, q de fato era o Fechados. Segundo ela,
o arraial tava pertinho, a apenas "uma horinha dali!" Entretanto,
sabíamos q deviamos q multiplicar essa previsão por 3, no minimo.
Cruzamos o rio e tomamos uma precária estradinha q saia da casa da
tiazinha, q descia o vale e acompanhava o curso dagua. Uma hora depois e c/
sol rachando nossas cacholas, estacionamos num trecho onde a estrada cruzava
o rio, q por sua vez descia numa sequencia de pequenas cachus e poçinhos
refrescantes. Alem do óbvio tchibum, fizemos uma boquinha à
sombra da única arvore do local.
Continuamos a pernada revigorados, acompanhando o rio (pela direita) q se
afunilava num belo cânion, despencando em + poços e cachus logo
abaixo. A descida fica íngreme e o precário carreiro de areia
e pedras comeca a exigir + de nossos joelhos, razão pela qual este
trecho foi feito s/ pressa e c/ muita cautela. Em largos ziguezagues, passamos
por incontáveis porteiras e 3 casinhas habitadas, sempre tendo a resposta
de seus ocupantes: "Ta pertinho, falta apenas 1 hora!" Sei.. Ao
menos aqui havia + vegetação e a sombra das arvores minimizava
o desgaste do calor e do sol forte daquele horario.
Mas eis q as 13:30 tivemos nossa 1ª panorâmica, numa fresta na
vegetação, da baixada e da minuscula Fechados. Dali foi so descer
forte inipterruptamente, sempre aos ziguezagues, pela trilha q agora era forrada
de pedras irregulares q serviam de degraus, lembrando uma "Trilha Inca"
tupiniquim. Perdendo altitude rapidamente e após molhar a cabeça
numa refrescante bica daquela escadaria natural, chegamos nos 623m de altitude
do sopé da serra, as 14:30!! Dali bastou andar por poeirenta estradinha
de terra, passar por um cemitério bem simples, algumas casinhas em
construcao ate finalmente chegar em Fechados, pontualmente as 15hrs!!!
"DIA DA MARMOTA" EM FECHADOS
Fechados é um ovo: imagine
uma igrejinha cercada de 1dúzia de casas, e outras poucas orbitando
aqui e acolá nas encostas. Isso é Fechados, arraial q leva esse
nome pq esta cercado de montanhas, o q realmente se constata na descida. Assim,
fomos direto ao Bar do Seu Zé - q tem o único telefone (de disco)
dali, já q celular não pega - ligar pro Seu Alair vir nos buscar.
Feito isso, bebemoramos a empreitada c/ cerveja e Guaraná Del Rey,
c/ exceção da Lu, claro! O Zé Carlos tb bebericou uma
pinga local q, segundo ele, tava "boa p/ daná!" Nisso, ouvíamos
o dedo de prosa de Seu Zé, q já fizera de td nesta vida, mas
depois q casou "quietou" de vez. Fora isso, trocamos de roupa e
nos livramos das botas, deixando os pés respirarem aliviados. O momento
hilário foi qdo, na parede do bar, surgiu uma lagartixa do tamanho
de um jacaré p/ nos dar boas-vindas ao arraial, alem de parecer nos
dizer "ces acham q vão embora hj, é? Esperem só.."
Enqto aguardávamos não nos restou opção senão
conehcer a pacata rotina das pessoas, alem de proseá c/ quase td mundo,
sempre c/ um "causo" na pta da língua. Almoçamos na
pousada-armazem da Dna Amélia uma legitima e deliciosa comida mineira,
da qual so faltou lamber os beiços. Enqto isso, as horas foram passando
e nada do Seu Alair. Foi ai q ficamos de tocaia ao lado do telefone, ligando
p/ saber se o dito cujo saira de fato ou não. Ao mesmo tempo perguntávamos
se havia outro modo de sair dali, sempre c/ respostas nada animadoras. O único
busao passa ali apenas 1 vez ao dia, sendo 3 vezes por semana. Nunca aos sábados
e domingo. Veículos particulares eram contados numa mão só;
metade deles tava quebrado e a outra não tinha previsão de saida.
Tivemos ate a oferta de ir ate Santana do Pirapama (e dali tomar táxi),
mas nosso comprometimento c/ Seu Alair nos mantinha presos ali. Foi ai q ficamos
impacientes. E nada do dito cujo...
Qdo a noite caiu já nos havíamos conformado q não sairíamos
dali naquele dia, e nos acomodamos nos rústicos e simples quartos da
"pousada" da Dna Amélia. Bem, nem curtir a "night"
de Fechados podíamos, pois quase tds tinham ido p/ "Festa da Imaculada
Conceição", em Santana do Pirapama, c/ direito a show do
forró de Dimas dos Teclados e Armando Lopes & banda. Sem opção
e cansados, bastou encostar o corpo moído nos macios colchoes q literalmetne
apagamos, mesmo c/ um alto forrozao tocando no bar ao lado.
Na manha seguinte acordei ao som estridente de um galo, q cantava bem antes
da alvorada. Tentei dormir novamente, s/ sucesso, levantando c/ o resto do
povo depois das 6:30hrs. Não havia alma viva na rua, apenas bois e
galinhas. Ligamos novamente p/ Santana do Riacho, as 8hrs, onde ficamos sabendo
q Seu Alair ate tinha vindo, mas quebrara no meio do caminho e desistiu de
vir nos buscar se mandando p/ BH. Entretanto Seu Waldir, marido de Dna Maria
do Rosário, se dispôs de vir c/ o veiculo nos buscar. Uffaaa!
Ate q enfim boas noticias! So torcíamos p/ q não demorasse muito,
embora já soubéssemos q qq previsão do jeitinho "mineirês"
é bem relativa.
Tomamos um farto café - c/ direito a leite fresco e pão-de-queijo
- e ficamos o resto da manha à toa novamente. C/ um céu desprovido
de nuvens, o friozinho matinal logo daria lugar a um calor sufocante. Bem,
como os programas daqui se resumem a forró e fazer churrasco, o jeito
foi apenas sentar e aguardar; o Zé Carlos aliviava suas bolhas num
meigo chinelinho Gisele Bunchen, enqto o Lion clicava instantâneos do
arraial despertando p/ + um domingo. A Lu teve ate uma animada seresta de
violão tocada pelo marido de Dna Amélia. Alias, esta senhora
é um amor de pessoa, e nos acolheu como se fossemos seus filhos durante
nosso "exílio" forçado no vilarejo, q descansava sempre
aos domingos. Tb pudera, a rotina era pesada p/ td mundo. Por exemplo, a nora
da Dna Amélia tinha um dia-dia q consistia em fazer rapadura pela manha,
cuidar do armazém e dos 3 filhos à tarde, e à noite ir
p/ escola.
O tempo foi passando, passando e passando. Dávamos nossa 50ª volta
ao redor do arraial e nada do veiculo. Aquilo parecia maldição,
e lembrei do filme "Feitiço do Tempo", onde o personagem
principal vive sempre o mesmo dia numa vila interiorana. Mas eis q as 13:30,
enfim, chega Seu Waldir c/ nosso carro e uma alegria s/ igual tomou conta
da gente! Apesar da insistência dele - c/ seu inseparável modelito
Texas Ranger - em almoçar ali, declinamos da oferta p/ zarpar o qto
antes! Assim e feitas as devidas despedidas e agradecimentos, conseguimos
sair do limbo de Fechados. Ato sgte foi serpentear intermináveis estradas
de terra, q deixaram o veiculo parecendo recém-saido do Rally dos Sertões,
ate cair no asfalto. Logo alcançamos Santana do Pirapama e, na sequencia,
Sete Lagoas. As 16:30 alcançamos BH e, após uma breve parada
p/ lanche, rumamos em definitivo p/ Terra da Garoa, onde chegamos quase à
meia-noite!!! Enfim, uma maratona só!
Dessa forma singular e pitoresca conhecemos na sola este recanto menos explorado
da Serra do Cipó, cujas paragens atrairam tanto os antigos bandeirantes
qto mineradores gringos na forma de pedras preciosas. Contudo, desta vez as
riquezas q nos levaram lá foram apenas a beleza e a aventura de palmilhar
novos rincões. E apesar dos imprevistos de planejamento na volta, conhecemos
a intimidade de um arraial estacionado no tempo q faz jus ao nome q ostenta.
Isolado de td, onde ainda há um benzedeiro e o médico vai apenas
1 vez por semana, Fechados nos brinda c/ gente hospitaleira e charme interiorano
típico mineiros. Assim, este outro lado da travessia - diferente da
Lapinha - vai mantendo sua rotina inalterada como antigamente. E pensando
bem, mesmo q se tenha q vencer gdes distancias, tds as dificuldades de acesso
e retorno, uma gde certeza é q somente assim a paz dali permanecerá
sempre preservada.
Jorge Soto
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Por
Jorge Soto
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