Travessia Longitudinal das Agulhas Negras
Por Mariana Zuquim
Fotos Mariana Zuquim e Pedro Refinetti

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Local: Parque Nacional do Itatiaia – Pico das Agulhas Negras
Via: Travessia Longitudinal
Participantes: Julio e Igor Spanner, Paulinho e Marcio (GEAN) e Pedro e Mariana (CEU)
Data: 26 de julho de 2008

No dia 26 de Julho de 2008, Pedro Refinetti e eu fizemos uma saída com alguns colegas do Grupo Excursionista Agulhas Negras (GEAN) para a Travessia Longitudinal das Agulhas Negras. Esta via segue por toda a crista da montanha, no sentido SE-NW (ou seja, da ponta em direção às Prateleiras até seu outro extremo, no vale da Asa de Hermes). Na travessia, assinamos 3 livros de cume: da Chaminé dos Estudantes, do Itatiaiaçu e da Chapada da Lua. Pedro e eu já havíamos feito uma tentativa partindo da Chaminé Jimmy mas, perdidos entre blocos, gastamos todo o dia para alcançar o cume do Itatiaiaçu...

Desta vez estávamos confiantes afinal, acompanhados do veteraníssimo Julio Spanner e seu filho Igor, certamente um dia especial nos aguardava. Começamos a caminhar a partir do Abrigo Rebouças às 7:45hs. A trilha é a mesma utilizada para as vias Pontão e Normal, até logo após o córrego das Agulhas Negras, quando bifurca em direção às vias Chaminé dos Estudantes, Bira, Jimmy e outras deste setor. A pedra que marca o início da Travessia é conhecida como Kalunga, entretanto não há nada sinalizando o começo, nem o meio e nem o fim da via. As únicas marcas são matos pisados em alguns trechos e um parafuso da conquista em 1938, por Richard Willy Brackmann e José Ferreira.

Até o cume da Chaminé dos Estudantes, a via impressiona um pouco, pois transcorre o tempo todo por arestas, blocos, aderências e pulos na beira de abismos... Na subida passamos pelo Santuário, uma "caverninha" entre blocos muito simpática. A parte mais difícil da via está no terço final, para ganhar o cume da Chaminé dos Estudantes: uma delicada travessia de poucos metros, até uma passagem levemente negativa, ultrapassada com uma oposição na aresta de uma canaleta empinada, pela qual se deve prosseguir mais uns seis metros em aderência. Um lance de quarto grau, no máximo, feito acima de um daqueles precipícios das Agulhas e protegido apenas pelo parafuso do Brackmann!

Galgando os diversos blocos rochosos, atingimos o primeiro cume do Pico das Agulhas Negras, o cume da Chaminé dos Estudantes, às 12:20hs, onde assinamos o livro e encontramos o registro de nossa passagem por lá na tentativa anterior. Após breve lanche, cruzamos a crista em direção ao norte, até atingirmos cume principal (Itatiaiaçu) às 13:20.
Cheio de turistas, mais parecia um formigueiro. Devia ter umas 40 pessoas... subimos e descemos o pico rapidinho para assinar o livro, na brecha entre um turista e outro. Saímos correndo antes que a multidão resolvesse fazer o mesmo - afinal ainda havia um
bom chão pela frente.

Descemos à grota da via Pontão Ricardo Gonçalves e continuamos para norte, contornando pela direita o próprio Pontão. De lá, abandonando uma fita num blocão entalado, rapelamos uns vinte metros até a grota da via Formigueiro. A partir desse trecho, praticamente não há mais escalada, apenas uns trepa pedras, de modo que avançamos rápido. Seguimos em meio ao labirinto de rochas até alcançarmos a Chapada da Lua, onde assinamos mais um livro de cume, às 15:00.

A Chapada da Lua, para quem olha do Rebouças, é aquele trecho praticamente plano, no lado esquerdo das Agulhas. É um lugar fantástico e tem esse nome pois há dois platôs quase do tamanho de uma quadra de futebol de salão, cheios de craterinhas. Dizem os entendidos, que é local de pouso de discos voadores e assemelhados. Apesar de quase alucinados de tanto cansaço, não tivemos a oportunidade de um encontro...

Seguimos com mais um rapel até a Chapada da Lua Baixa, e lá pelas 16:30 chegamos ao abismo que separa os maciços das Agulhas e da Asa de Hermes. Lá, em meio à imensidão de rochas e fendas, como que procurando uma agulha num palheiro, o Julio encontrou o último grampo da Chaminé XIV de julho. Um único grampinho de 3/8", com olhal do tipo dobrado (e não soldado como atualmente), de 1965... Uma ótima alternativa para retornar à base da montanha (afinal era a única que tínhamos)! Mais um rapel no mesmo estilo e, finalmente, às 17:30, pisamos na trilha da Asa de Hermes e concluímos nossa jornada vertical. Com as pernas pesadas e a mente leve, em pouco mais de uma hora estávamos de volta ao Rebouças, onze horas depois da partida. Um dia de montanhismo e tanto!

Para mais informações sobre as vias no Agulhas Negras, consulte o site do GEAN: www.grupogean.com

Mariana Zuquim
Formada em Geologia pela USP
Escaladora e Montanhista
Vice-Presidente da Femesp
Sócia e Guia do CEU

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