Parques que não são parques

No dia 18 de março, o jornal Folha de São Paulo veiculou matéria com o título Parques nacionais sofrem queda na procura. A matéria inicia abordando a queda na visitação dos Parques Nacionais da Tijuca e do Iguaçu, por motivos que variam do aumento da violência no primeiro à seca que afligiu o segundo no ano passado etransformou as famosas quedas em respingos de pouco interesse. Segundo o jornal, os dois parques citados receberam, cada um, cerca de 1 milhão de visitantes em 2005, cifra que é muito maior do que a soma da visitação de todos os demais parques nacionais brasileiros. Tijuca e Iguaçu são casos à parte no panorama dos parques nacionais e estaduais no Brasil. A Floresta da Tijuca é a principal e mais acessível área natural da cidade do Rio de Janeiro, utilizada como área de lazer e de esporte pelo cidadão carioca que pode se dar a esses luxos, mas é o Cristo Redentor, de braços abertos lá no alto do Corcovado, que puxa os índices de visitação para as cifras de centenas de milhares, como principal cartão postal da cidade maravilhosa e, em muitos casos, do Brasil.

Foz do Iguaçu também habita o imaginário coletivo e deve estar entre os 10 atrativos que qualquer viajante que se dirija a América do Sul gostaria de ver. As facilidades de acesso e a forte organização da visitação, voltada ao atendimento de massa, facilitam e reforçam esse desígnio, embora a experiência desse parque não deva ser tomada como modelo.

Mas, e os demais? O site do IBAMA contabiliza 62 parques nacionais espalhados pelo país. Desses, cerca de um terço estão localizados em áreas remotas nos confins da amazônia, onde a dificuldade de acesso não justifica o empenho de organização da visitação. Mas cerca de 30 parques, além de apresentarem incomparável paisagem, estão em locais acessíveis e de interesse para a atividade turística e, em muitos casos, não tem sequer um funcionário para receber o visitante. Na mesma reportagem, Maria Tereza Pádua afirma que: "no Brasil, jamais se destinou recursos suficientes para implementação de visitação nos parques nacionais". Essa política, que a entrevistada chamou de "burra" pode estar, ao contrário do que imagina muita gente, no cerne de questões como a proteção dessas áreas e sua viabilidade sócio-econômica. Maria Tereza complementa: " Os parques são criados, mas não sãoimplementados.... Como a população não sabe dos benefícios, não os defende. Como não há pressão política, o governo não gasta dinheiro com eles." Eu acrescentaria que como o governo não gasta dinheiro implementando um programa consistente de visitação, os parques, que se diferenciam de outras unidades de conservação exatamente por apresentarem uma paisagem única e incluirem a visita e o turismo ecológico como um de seus objetivos, permanecem num limbo onde ninguém sabe o que fazer com eles.

Em resumo, o descaso do com a visitação é tamanho que não há um setor específico para o uso público no sistema federal de unidades de conservação, que possa desenvolver e aplicar um modelo de visitação nesses parques que são a grande oportunidade para brasileiros e estrangeiros conhecerem e aproveitarem os benefícios do convívio com uma área natural protegida. Essa visita tem o efeito imediato de beneficiar também as populações que vivem nas vizinhanças, pela quantidade de serviços que demanda e, ao mesmo tempo garantir a proteção dessas áreas.

Em termos de uso público e gestão da visitação o sistema nacional de unidades de conservação brasileiro está com quase um século de atraso no investimento necessário para aplicar e tornar efetivas as técnicas de manejo e de gestão que têm dado notoriedade e bons resultados a parques situados em países tão distintos como Quênia, África do Sul, Zimbábue, Chile, Costa Rica, Nova Zelândia, EUA e Canadá.

Investir na visitação nos parques e na organização da atividade turística ao seu redor representa o início de um arranjo social que permite novas oportunidades a todos os que são afetados pela sua existência. O turismo emprega mais gente do que a agricultura ou a pecuária e pode ser desenvolvido paralelamente às demais atividades econômicas, somando lucros e resultados.

Se tivessemos no Brasil apenas 10 parques devidamente preparados para receber a demanda de visitação que se dirige a outros países, exatamente para conhecer esse tipo de área protegida, poderiamos começar a festejar a implantação de um mercado e de uma atividade ecoturística salutar e interessante. E não se trata de investir milhões em edifícios ou estradas, mas apenas de capacitar adequadamente os responsáveis por essas áreas e dotá-las de pessoal e meios para desenvolverem seu trabalho.

Por Milton Dines
______ Ambientalista-Diretor de Meio Ambiente da Femesp e CBME
______ Especialista em planejamento de uso público em áreas protegidas
______ e ecoturismo
______ Coord. da Campanha Pega Leve do CEU www.pegaleve.org.br
______ mdines@uol.com.br


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